quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vαziα

Alguma coisa muito dolorosa acontece conosco.
A dor que sentimos parece nos corroer por dentro.
Chegamos a um nível onde decidimos fazer alguma coisa para amenizá-la.
Uma das saídas é construir barreiras que possam nos proteger.
Por trás das barreiras, um lugar só nosso.
É para lá que vamos nos momentos de crise.
Aos poucos, acostumamo-nos a viver lá.
Esquecemos de como é o mundo real.
Algumas vezes, ouvimos as batidas nos muros, a dor quer entrar.
Mas ignoramos. Porque estamos seguros.
Depois de um tempo, não ouvimos mais as batidas.
Elas tornam-se como os pássaros que cantam todos os dias.
Não percebemos o seu canto, já que ele está sempre lá.
A vida parece fácil, tranquila.
Somente quando prestamos atenção, podemos ouvir as agora leves batidas.
Mas não podemos diferenciá-las.
Porque não é só a dor que quer entrar, outras emoções também querem.
Amor, alegria, compaixão, amizade, felicidade.
Mas por qualquer rachadura nos muros, todos são capazes de entrar, inclusive a dor.
Então teremos que fazer outra escolha.
Tudo ou nada.
Quem não quiser sentir dor, quem não quiser sofrer, não poderá sentir nada.
É um preço - embora que não justo - a se pagar.
Será a dor - e todo o resto - ou o nada.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

...

Eu aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém. Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim, e ter paciência para que a vida faça o resto; que não importa o quanto certas coisas são importantes para mim – tem gente que não dá a mínima, e jamais conseguirei convencê-las; que posso passar anos construindo uma verdade, e destruí-la em apenas alguns segundos.

Eu aprendi que posso usar meu charme por apenas quinze minutos; depois disso, preciso saber do que estou falando; que eu posso fazer algo em um minuto, e ter que responder por isso o resto da vida; que por mais que você corte um pão em fatias, este pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo que cortamos de nosso caminho.

Eu aprendi que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência; que eu posso ir além dos limites que eu própria me coloquei; que eu preciso escolher entre controlar meu pensamento, ou ser controlada por ele.

Eu aprendi que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele
momento, independente do medo que sentem; que perdoar exige muita prática; que há muita gente que gosta de mim, mas que não consegue expressar isso.

Eu aprendi que nos momentos mais difíceis, a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que ia tentar piorar minha vida; que eu posso ficar furiosa, tenho o direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel; que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis. Será uma tragédia para o mundo se eu consigo convencê-la disso.

Eu aprendi que minha melhor amiga vai me machucar de vez em quando, e eu tenho que me acostumar com isso; que não é o bastante ser perdoada pelos outros; eu preciso me perdoar primeiro; que não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.

Eu aprendi que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu fiz quando adulta; que numa briga, eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não quero me envolver; que quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiam. E quando duas pessoas não discutem, não significa que elas se amam.

Eu aprendi que por mais que eu queira me proteger, vou me machucar – isso faz parte da vida; que minha existência pode mudar para sempre em poucas horas, por causa de gente que nunca vi antes; que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.

Eu aprendi que a palavra “amor” perde o seu sentido, quando usada sem critério; que
certas pessoas vão embora de qualquer maneira; que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas que eu acredito.